Iniciando : Conceitos e Projetos básicos.

Este é um espaço destinado tanto para as pessoas que gostam do vôo silencioso e tranquilo dos planadores quanto para aqueles que curtem a adrenalina do voo rápido e acrobático dos planadores de colina.
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Marcos Quito
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Mensagem por Marcos Quito »

Observe que na "Razão de planeio" não é levada em conta a variável TEMPO.
Daí nasce outro conceito : VELOCIDADE DE AFUNDAMENTO - ou simplesmente "afundamento".

AFUNDAMENTO é a velocidade VERTICAL de descida do planador. Então um planador voando a 90km/h pode estar perdendo altura a uma taxa de 2m/s, por exemplo.

Dá muita confusão estes dois termos. Quem voa planador (de gente) lida muito mais com estes termos. Como nossos modelos não têm variômetro nem velocímetro, não nos importamos tanto com isto. Porém são conceitos úteis para entendermos algumas situações.

Enquanto falamos em razão de planeio MÁXIMA para um determinado planador, por outro lado é citado o AFUNDAMENTO MÍNIMO, porque :
É desejável que o planador ande o máximo para frente - maior eficiência ( razão de planeio).
E também é desejável que ele afunde o menos possível - maior eficiência (afundamento).

Quando é que o planador sobe ?

- Quando a velocidade vertical da térmica é superior ao afundamento dele. Daí a importância do termo.

É uma contabilidade simples : Se eu desço a uma taxa de 5m/s, e a térmica sobe também a 5m/s, então empatamos, e eu nem desço nem subo.
sandro_ventania
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Mensagem por sandro_ventania »

se a intençao é permanencia o principal é o afundamento.
se é velocidade o principal é o planeio.

a razao de planeio esta intimamente ligado a aerodinamica buscando o menor arrasto possivel.
já o menor afundamento se busca um perfil gerador de maior sustentaçao possivel.
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Marcos Quito
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Mensagem por Marcos Quito »

Valeu Sandro, obrigado pela colaboração.

Continuando e emendando a idéia do Sandro :

Quando rodamos uma térmica precisamos do MENOR AFUNDAMENTO. Via de regra este é conseguido numa velocidade bem próxima do stoll - ou seja lento. Assim ganhamos altura.

Quando a térmica acabou ou queremos agora "andar para frente" - seguir a rota desejada - aí é que nos valemos da "MELHOR RAZÃO DE PLANEIO" (que é outra velocidade). Esta velocidade de melhor razão de planeio é citada pelo fabricante. Nós aeromodelistas acabamos "entendendo" com a experiência com um certo modelo qual seria esta velocidade, mas é puro feeling.

O desenho ilustra a situação : Usamos a térmica para ganhar altura, e depois seguimos uma parte do rumo desejado, até uma altura mínima. Depois rodamos térmica novamente, para continuar no nosso rumo e "gastar" a altura ganha. E assim sucessivamente.

De novo, em aeromodelismo não fazemos "exatamente" assim, mas o princípio é o mesmo : Tenho que ter "combustível" para me aventurar a chegar em um lugar desejado; sem esta altura mínima eu não saio.

Nota : observe que via de regra, vizinho de uma ascendente (térmica) tem sempre uma descendente, como mostra o desenho. Por isto temos que sair rápido de uma térmica para encontrar a outra.
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Tire esse negócio que gira do nariz do seu modelo !!
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Marcos Quito
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Mensagem por Marcos Quito »

Pôxa Ferrarinha, tú é biólogo ?
Valeu, muito bem observado - vc tem olhos de planadorista mesmo !
Só planadorista para ficar olhando vôo de urubú - e que coisa linda ! É só o que me consola quando passo na marginal Tietê.

Indo na sequência, mais um conceito dos planadores "de gente" :

CONE DE SEGURANÇA : Este conceito já está embutido no texto aí em cima, mas vale colocar o desenhinho (aliás, Ferrarinha, pode dar uma caprichada da próxima?).

Mais ou menos assim : Você somente se afasta do local de pouso (normalmente é o mesmo local da decolagem) se tiver altura suficiente para voltar, considerando o vento e a razão de planeio daquela aeronave.
Tem até esta continha para fazer :
distância = razão de planeio x altura (o resultado é a distância que vc pode ficar da pista de pouso)

Mas em aeromodelismo não precisa. O que precisa é ter isto em mente.

Vc vê um monte de urubús voando bem na sua frente no meio do vale, mas se você não tiver altura de sobra para ir e voltar, melhor não ir.

Ou então vc é corajoso mesmo e tem tanta certeza de que lá irá conseguir recuperar altura, que vai apenas com passagem de ida. Aí depende da sua experiência.
Quando é monte de urubú mesmo, a gente acaba indo na aventura, porque é certeza que sobe.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE : Não se esqueça do VENTO!!! Se o vento está "indo", vc também "vai" fácil, só que depois não volta.
Então este "cone" fica deslocado com o vento.
Melhor vc "ir" de encontro com o vento, assim a volta está mais garantida.
Anexos
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Mensagem por Marcos Quito »

Continuando, vamos falar um pouco de AERODINÂMICA.

O princípio básico da sustentação gerada por um aerofólio é descrito a seguir :

Uma superfície exposta a um fluxo de fluido com um certo ângulo de ataque gera uma força normal ao plano de tal superfície, como ilustra o desenho.
Anexos
sustentação.JPG
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Mensagem por Marcos Quito »

Porém isto é muito rudimentar, apesar de ser possível brincar a valer com planadores feitos com asas “sem perfis” – eles também voam, porém com baixa eficiência.

Assim comprovou-se que perfis com a base mais plana geravam maior sustentação :
O ar que passa na parte de cima (extradorso) tem que percorrer uma distância maior, portanto tem maior velocidade.

Pela lei de Venturi :

MAIOR VELOCIDADE = MENOR PRESSÃO

Portanto a pressão no intradorso é maior que a do extradorso, como mostra a figura seguinte.
Anexos
princasa.JPG
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Marcos Quito
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Mensagem por Marcos Quito »

Para melhorar a eficiência da asa – também chamada de “aerofólio” - foram criados e estudados diversos tipos de perfis em função da sua aplicação. Existem perfis mais eficientes para cada aplicação, como :
- Mais velocidade;
- Mais sustentação;
- Específico para “x” velocidade e “y” sustentação.

A título de exemplo colocamos alguns tipos aqui : (vide figura)

O perfil chamado de simétrico (Ex. NACA0010) não produz qualquer sustentação a um ângulo de ataque “zero”. É utilizado em aviões acrobáticos – pois funciona igual no vôo normal ou invertido.

O clássico Clark Y é classificado de “plano-convexo”, e já produz muita sustentação mesmo em zero de ângulo de ataque. Foi utilizado nos anos 50 nos utilitários tipo Piper J3. É muito utilizado no aeromodelistmo em treinadores.

O perfil de HIPERSUSTENTAÇÃO aqui ilustra a situação de uma asa de um avião comercial de passageiros no momento do pouso ou decolagem, situação que exige muita sustentação – porém baixa velocidade.

Estes exemplos ilustram algumas aplicações, porém o assunto aqui é muito vasto, e hoje existe uma infinidade de perfis para quaisquer aplicações. É natural pensar em colocar um perfil de hipersustentação num planador, porém isto já foi feito nos anos 40 e o que acontece é que o vôo fica excessivamente lento.
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Ferrarinha
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Mensagem por Ferrarinha »

PARA A MODALIDADE DS;
Nesse endereço http://www.rcsail.com/dsinfns.htm tem todas informações necessárias , tem até videos e ilustrações.
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Marcos Quito
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Mensagem por Marcos Quito »

Muito legal esse site de DS.
Bom o tópico era para iniciantes, mas já que mencionaram o vírus, tem que explicar :
DS = Dynamic Soaring = Vôo planado aproveitando os gradientes de vento (diferenças de velocidade de vento) e da inércia do planador.
Condições :
Local : Colina
Tipo de vento : médio para forte
Tipo de modelo : Huuuummmm, "modelo para DS". Ex. JW.
JW = Joe Wurts, o cara que inventou o DS no mundo, e também criou esta máquina.
O local de vôo para o DS é na vizinhança entre o vento e o rotor (as costas do morro).
Melhor ver o link, difícil de explicar :
Vc toma a pancada do vento, ganhando velocidade, depois mergulha no rotor (que é como vácuo, não oferece resistência) aumentando a velocidade, e volta de novo para tomar outra pancada, e assim sucessivamente.
Isto entra num ciclo praticamente que ressonante, aumentando cada vez mais a velocidade, até chegar no ápice do DS que é quebrar a asa em vôo :lol:
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Mensagem por Marcos Quito »

ESTABILIDADE e CG :

Um conceito bem básico e interessante é este de estabilidade. Existem diferentes tipos de equilíbrio, basicamente estes três :

Equilíbrio ESTÁVEL : O sistema tem sempre a tendência de voltar ao repouso. Para um planador significa que se você soltar o manche, ele retorna ao vôo nivelado. Se você mergulhar um pouco, ele vai aumentar a velocidade e começar a nivelar o vôo "automaticamente".

Equilíbrio INSTÁVEL : O sistema tem sempre a tendência de sair do repouso, em qualquer direção aleatoriamente. No caso de um planador significa que se soltar o manche ele irá fazer qualquer coisa menos ficar nivelado.

Equilíbrio INDIFERENTE : O sistema tende a continuar sua posição/trajetória sem se alterar. Num planador isto significa que se você soltar o manche ele irá continuar sua tendência atual, se de subida continuando a subir, se descida continuando a descer, etc...

O mais comum é desejarmos que nosso planador tenha comportamento ESTÁVEL.
O desenho ilustra os conceitos.

Obs. : Alguns pilotos, muito experientes, podem preferir o equilíbrio INDIFERENTE para seu modelo. Isto é num estágio bastante avançado do esporte.
Mas 90% da população definitivamente não fica confortável com aquilo, porque você tem que conhecer muito bem a velocidade e o comportamento do modelo.
Em planadorismo estamos o tempo todo "testando" em vôo para saber quão perto estamos da velocidade de estol.
Assim, basta abaixar um pouco o nariz, e esperar ele fazer aquela curva "básica" de descida e depois de recuperação. No final desta subida você sabe que está mais próximo da velocidade de estol.
Anexos
estabilidadejpg.JPG
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