Iniciando : Conceitos e Projetos básicos.

Este é um espaço destinado tanto para as pessoas que gostam do vôo silencioso e tranquilo dos planadores quanto para aqueles que curtem a adrenalina do voo rápido e acrobático dos planadores de colina.
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Marcos Quito
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TRIMANDO O MODELO :

Para ocorrer o EQUILÍBRIO ESTÁVEL existe uma condição básica :

“O CG deve ficar à frente do CP”

CG = Centro de Gravidade
CP = Centro de Pressão

Todo aerofólio (entenda-se “asa”) possui um CENTRO DE PRESSÃO. O centro de pressão é o ponto médio das forças de sustentação da asa.

CG é o Centro de Gravidade, ou seja o centro do “peso” do planador.
Via de regra, para planadores convencionais o CG está localizado a aproximadamente 30~33% da Corda Média. Se você tem a planta do modelo, melhor consulá-la neste momento.

O CP pode ser conseguido dos dados do perfil em questão, mas para nossa prática ele ficará como um "ser imáginário" mesmo.

Quando o CG está à frente do CP temos equilíbrio ESTÁVEL.
Quando o CG está junto do CP temos equilíbrio INDIFERENTE.
Quando o CG está atrás do CP temos equilíbrio INSTÁVEL.

REGRA DE OURO :
Por isto é que dizemos, “melhor CG adiantado do que atrasado”.

Quando vamos estreiar um planador, melhor colocar um chumbo a mais no nariz para evitar surpresas, pois, se ele estiver com o CG para trás, ficará incontrolável = lenha na certa.

Se estiver com o CG para frente, com certeza controle você terá.

Para o máximo de rendimento de um planador ele deve ter o CG mais próximo possível do CP, sem comprometer a estabilidade. Para isto, começamos com CG adiantado, e vamos tirando pouco-a-pouco o peso do nariz até conseguir o melhor rendimento, ou até perceber que o modelo está ficando incontrolável.
Anexos
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Tire esse negócio que gira do nariz do seu modelo !!
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Marcos Quito
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[quote:5b849420dc="MARCOS QUITO"]TRIMANDO O MODELO :
CG é o Centro de Gravidade, ou seja o centro do “peso” do planador.
Via de regra, para planadores convencionais o CG está localizado a aproximadamente 30~33% da Corda Média. Se você tem a planta do modelo, melhor consulá-la neste momento.
[/quote:5b849420dc]

Somente para reforçar, estamos falando de planador convencional = asa principal + profundor.
No caso de asas voadoras = aeronave com uma asa somente, esta regra muda um pouco, e a porcentagem cai para 20%.
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DIVE TEST :

Para checar se seu modelo está com o CG correto não basta a teoria. Devido às diversas outras variáveis, geometria, etc..., do modelo, vc precisa testá-lo em vôo e assim fazer um ajuste mais fino do CG.

O dive test é a maneira mais fiel que já encontrei. Consiste em mergulhar o modelo num ângulo de uns 30~45 graus, e então soltar o comando e observar :

1. Se o modelo for recuperando, e subir o nariz rapidamente, então está com peso de nariz, que é uma condição desejável para iniciantes, e para quem quer relaxar. Porém existe perda de eficiência nesta condição, tipo, dá prá melhorar.

2. Se o modelo for descendo reto, e não se recuperar sozinho, mas continuar reto, então está com o CG na mosca. É uma condição ideal, porém dá algum desconforto para quem não está acostumado. Definitivamente não recomendável para iniciantes.

3. Se o modelo embicar para o chão conforme ganha velocidade, e ao invés de recuperar, for mais em direção ao solo, então ele está com peso de cauda (acredite ou não !!! * ). Esta é uma condição totalmente desaconselhável para qualquer pessoa. Porém alguns experts em DLG voam nesta situação, pois dizem que é ótima para pegar térmicas.

Minha recomendação, comece no número 1 (peso de nariz), que é o mais estável, evita stoll, e vai tirando peso do nariz gradativamente, até chegar no ponto que prefere.

O desenho ilustra.

Considero ideal um leve peso de nariz, apenas para ele não embicar no mergulho, e fazer uma recuperação beeeeemmm lenta.

* Explicação : Para entender, o efeito é o seguinte : Um planador funciona porque a gravidade puxa ele para baixo (age como motor), e a resultante aerodinâmica puxa ele para cima. Aumentando a velocidade isto fica mais pronunciado, no mergulho, e ele sobe o nariz naturalmente.
Quando o CG está para trás (peso de cauda) a gravidade não consegue agir por si só, e o modelo tende a levantar o nariz para o estol, então vc interfere na resultante aerodinamica dando comando de "picar", fazendo ele baixar o nariz. Isto quer dizer que a resultante aerodinamica fica no limite entre zero e negativo. Ao mergulhar, a velocidade aumenta, então isto fica mais nítido e ele acaba "embicando" para baixo.
Anexos
dive test.jpg
dive test.jpg (14.16 KiB) Exibido 60653 vezes
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ENCONTRANDO O CG :

Já que - como sempre - estão com várias dúvidas para encontrar CG...
Tenho a impressão que o CG errado (atrasado) é a causa de 80% dos acidentes/insucessos dos mais novatos no hobby. E mesmo dos mais experientes, a gente constrói com uma fé tão grande que o CG vai estar "pronto" no final, que às vezes esquecemos de medir direito, com o aileron instalado...

CÁLCULO DO CG :
O melhor é seguir as instruções do fabricante quanto à posição do CG, porém existem métodos relativamente fáceis para se calcular. O que se busca é a Corda Média Aerodinâmica (que obviamente é diferente da Corda Média aritmética).

Para asas retangulares, com Corda constante, a própria corda é a Corda Média Aerodinâmica. Aí é fácil né ?

Porém é comum encontrarmos tipos diferentes de formatos de asa, onde o método geométrico é o mais simples e é ilustrado a seguir :

1. Pega-se a corda da raiz, coloca-se nas duas extremidades da ponta.
2. Faça o mesmo com a corda da ponta : coloque nas duas extremidades da raiz – bordo de ataque e bordo de fuga.
3. Una as extremidades. No cruzamento encontre a Corda Média.
4. Tire 30% da Corda Média, aí é o CG. Isto é válido para asas enflexadas também, para planadores convencionais.

Para asas voadoras esta porcentagem cai para 20%.

Reforçando :

Planador convencional = entenda-se como aquele que tem asa grande na frente e estabilizador/profundor atrás.
CG = 30% Cmed

Asas Voadoras = entenda-se como o modelo que tem APENAS um aerofólio, uma asa horizontal.
Ex. Zagi, JW.
CG = 20% Cmed
Anexos
cg calculo.JPG
cg calculo.JPG (15.41 KiB) Exibido 68816 vezes
enflexada.JPG
enflexada.JPG (11.32 KiB) Exibido 68816 vezes
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VELOCIDADE DE ESTOL

ESTOL (o termo vem do inglês “stall”) é a perda de sustentação da aeronave. Ocorre quando a aeronave se encontra num ângulo de ataque maior que o crítico, fazendo com que os filetes de ar não mais acompanhem o extradorso da asa, tendo como consequência uma abrupta perda de sustentação e aumento do arrasto.

Bom esta explicação cola mais para aviões motorizados.

A velocidade de estol é dita como a mínima velocidade possível de se voar. Durante o vôo o piloto deve ficar de olho no velocímetro, para não deixar a velocidade diminuir até este ponto, caso contrário ocorrerá o que chamamos de PERDA. É a própria perda de sustentação.

Qualquer aeronave dinamicamente estável irá entrar em perda quando atingir a velocidade de estol, fazendo ela baixar o nariz para aumentar a velocidade e assim retomar o vôo normal.

O problema é que nem sempre existe altura suficiente para esta retomada, e a conseqüência é o “nariz no chão”. Daí o seu risco, principalmente em aproximação para pouso, quando a aeronave já se encontra a baixa altura.

Existem graus de intensidade de perda, mais qualquer que seja, deve ser evitada.

É de consenso também que quando estamos numa térmica, para aproveitá-la ao máximo, precisamos ficar na velocidade de MENOR afundamento – que é bastante próxima da velocidade de estol.

Provocamos o estol num planador quando seguramos o profundor cabrado demais – ou simplesmente cabrado por tempo demais. Cada “estolada” gera perda de energia, por isto é melhor não estolar e deixar o modelo “andar para frente” do que ficar estolando ele (com medo de afundar).

O principiante faz muito disso, decola e começa a puxar (cabrar) com medo de afundar, e logo o planador estola – piorando a situação.

Antes de estolar o modelo nos dá alguns sinais : Levanta o nariz, dá uma tremida nas asas, e se você insistir em cabrar, por fim ele fica sem controle e uma das asas cai totalmente e ele entra num mergulho feio.

Já vi muita gente chamar esta situação de “interferência” – porque a sensação que dá é que o modelo está totalmente sem controle e não responde aos comandos. Ele não responde aos comandos porque não tem velocidade !

Quando não conhecemos o modelo o melhor que podemos fazer é deixar o nariz dele mais baixo, deixa ele correr céu, e quando estiver bem alto comece a ajustar o trim e se acostumar com sua velocidade de estol.

Há tem outra : Próximo da velocidade de estol o leme funciona mal. Às vezes estamos tentando fazer uma última curva para pouso e não conseguimos, porque a velocidade é muito baixa. Para corrigir, basta picar um pouco, ele ganha velocidade e então gire – ele vai obedecer agora.
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COMO MEDIR O CG

Existem muitas dúvidas de como se descobre praticamente onde ESTÁ o CG do seu modelo – apesar de ser simples :

Depois que você já descobriu ONDE fica o CG DESEJADO, a recomendação é que faça um desenho na asa (parte de baixo) – uma bolinha em cada asa – esquerda e direita. Use aquela caneta que escreve em CD.

Agora APÓIE o modelo pela ponta dos dedos, no lugar marcado.

Tem gente que indica segurar pela PONTA das asas – um em cada ponta – mas pode incorrer em erro grosseiro no caso de asas enflexadas.

Por isto o melhor é : Tenha CERTEZA de ONDE é a localização, DESENHE, e apóie SOBRE as marcas. Não seja muito criativo nesta hora.

Obedeça a planta, siga as instruções do fabricante, ou de quem já voou o mesmo modelo.

MODA : 99,9% dos modelos estão com peso de cauda no primeiro vôo.
É óbvio, ninguém quer deixar um planador mais pesado, então colocamos só o peso suficiente no nariz. Mas esquecemos que depois que fizemos “quase tudo”, colocamos o push-rod até a cauda, entelamos o profundor, e então o CG foi para trás !!

Observação : Não faça isto no morro, sob vento ! Se for fazer em campo, faça atrás do carro, onde o vento é mais fraco.
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Aí vai a ilustração.

Difícil tirar esta foto - ele não pára equilibrado por muito tempo !!

- Marcando o CG.
- Equilibrando na ponta dos dedos.
- Quando o modelo é "asa baixa" como este meu, fica bem mais prático segurar pela cabine.
Anexos
risca cg.JPG
risca cg.JPG (17.65 KiB) Exibido 30644 vezes
segura CG.JPG
segura CG.JPG (19.82 KiB) Exibido 30644 vezes
segura cg2.JPG
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ARRASTO :

Como vimos anteriormente o arrasto é a força que se opõe ao vôo, é o que prejudica a eficiência da aeronave.

O arrasto varia diretamente proporcional a alguns fatores :
- Atrito
- Área
- Comprimento longitudinal

(Obs. : Longitudinal é no sentido da fuselagem.)

Por isto a importância de ter a menor área “morta” possível (Ex. fuselagem), e a superfície mais lisa possível (mais lisa, menor o atrito, ou seja, menor o arrasto).

Duas asas com mesma área poderiam ter os desenhos como A ou B. O que muda entre elas é o seu “Alongamento”. Alongamento é a razão entre a Envergadura (W) e a Corda Média (Cm) :

L = W/Cm

É comprovado que quanto maior o alongamento, menor o arrasto, e portanto, a asa B terá mais arrasto que a asa A. Portanto quanto maior o Alongamento melhor a eficiência da asa como se pode verificar nos planadores.
Aviões têm alongamento baixo, entre 5 e 8, enquanto que planadores têm alongamento alto, entre 10 e 20.
Anexos
alongamento.JPG
alongamento.JPG (4.32 KiB) Exibido 30601 vezes
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Um grande fator “gerador” de arrasto é o chamado ARRASTO INDUZIDO :
Como a pressão do intradorso (em baixo) da asa é maior que no extradorso (em cima), o ar tenta passar de baixo para cima, e o único local onde isto é possível é na ponta da asa. Assim forma-se um vórtex (redemoinho) na ponta da asa que prejudica a sustentação e aumenta o arrasto.

Quanto maior a corda na ponta da asa, maior o arrasto induzido, e isto vem justificar o motivo porque quanto maior o alongamento menor o arrasto.

Tenta-se todo custo eliminar o Arrasto Induzido, e uma das melhores soluções encontradas foi o “Winglet”. Winglet é aquela pequena superfície vertical dos aviões comerciais, na ponta da asa (como um lemezinho).
Anexos
induzido.JPG
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Uma conseqüência indesejável do Arrasto Induzido é o “estol de ponta de asa”. Como o ar “escapa” pela ponta esta região entra em estol antes do resto da asa.
Para evitar isto é que se faz o “washout” = diminui-se o ângulo de ataque na ponta da asa, com uma torção na asa, como no desenho :

Esta torção é que evita aquele tipo de estol em curvas a baixa velocidade : A ponta da asa de dentro da curva está a uma velocidade mais baixa que o resto da asa, e numa situação crítica (de baixa velocidade) pode entrar em estol, fazendo o modelo entrar num parafuso para o mesmo lado da curva. Isto acontece nas aproximações para pouso, queremos baixa velocidade, e então fazemos uma curva, e – já era !!!!

Não é muito fácil fazer o tal washout no aeromodelismo – pode ser considerado um “preciosismo” por muitos. É certo que voa-se muito bem sem o washout, mas quando se trata de competições, onde cada milímetro faz diferença, então melhor se preocupar com ele.
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- QUANTOS CANAIS EU REALMENTE PRECISO ?

Acabei me empolgando com as teorias de vôo (é apaixonante), mas voltemos ao caso do PRINCIPIANTE :

A gente costuma dizer que para se começar no planadorismo só precisamos de 2 canais.
Mas como todo bom Mineiro, sempre recomendamos que : Se tiver grana, compre um rádio com mais canais, pois é um investimento "prá toda a vida". É mesmo. Rádio a gente compra poucos na vida (os normais, claro). Felizmente o rádio é uma peça que raramente falha, quebra, ou sofre qualquer dano. No máximo a antena dele (todo mundo já entortou uma antena daquelas) precisa de substituição.

No planadorismo PURO (sem motor) bastam 2 canais para ser feliz.
- Os planadores termais utilizam leme/profundor;
- Planadores de colina usam aileron/profundor;
- As asas voadoras precisam de 2 canais e muito frequentemente de um mixer. O mixer pode vir no rádio, se não vier basta comprar como acessório (sem problemas).

Claro que existem os planadores de escala, com 210 canais - mas estamos falando em principiantes !

Agora se você está realmente inclinado a ir para o planador motorizado, precisa de mais um canal para o motor.
Os mais puristas criticam isto, mas com certeza o motor dá uma facilitada muito boa na vida.

Considero que existam as duas vertentes :
- Os que querem o conforto do motor, e os que querem o DESAFIO do planador puro.

Acontece que a segunda opção é como um vício, um vírus, sem cura.
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